Thursday, April 3, 2014

Fabio Porchat fala sobre nova série do Porta, polêmicas e cinema brasileiro

- De onde surgiu a ideia de produzir uma série? Vocês já tinham pensado em algo assim? No ano passado a gente começou a pensar no que poderia fazer de novidade este ano e, além de manter as esquetes às segundas e quintas, a gente pensou que a série poderia ser um ótimo próximo passo. Esse ano a gente deve lançar quatro séries e essa Viral é a primeira de todas.

- Vocês já tinham a intenção de abordar o assunto da AIDS ou foi algo que surgiu naturalmente? Eu que tive a ideia e escrevi. E eu pensei justamente na AIDS porque é um assunto que não se fala muito mais, parece que saiu de moda, como se a AIDS tivesse acabado. Eu acho que é um ótimo assunto e eu nunca vi ninguém fazer humor com esse tema então isso sempre me instiga, quando se trata de algo relativamente novo, diferente. No Porta a gente procura sempre abordar alguns assuntos de uma forma diferente. Eu me inspirei muito naquele filme 50%, que é um drama com o Seth Rogen, no qual eles fazem graça com câncer e então eu pensei: ‘por que não com a AIDS?’, aí me veio essa ideia e eu escrevi quatro episódios pensando nisso.

- Como vocês fizeram para fugir dos clichês de tudo que já foi feito, tanto no cinema, na televisão? Justamente fazendo piada com o assunto. Eu nunca tinha visto ninguém fazer isso, então é difícil ficar no clichê fazendo piada sobre isso porque não existe. O que eu tentei evitar foram alguns clichês dramáticos. Por exemplo, o Gregório é o personagem que é portador do vírus e ele não é magro, não está acabado, ele não está péssimo, ao contrário, ele está barbudo, bem, tranquilo. O que a gente quer passar com a série é que hoje em dia a pessoa tem AIDS e ela vive normalmente, diferente do que acontecia há vinte anos, quando você estava praticamente condenado à morte. Hoje em dia é algo que você vai levar para o resto da vida, vai ter que se cuidar, como se tivesse diabetes.

- Vocês tiveram que cortar piadas e tiradas para que elas não pareçam ofensivas ou sejam entendidas de maneira errada? Nada. Curioso que não, sabia? Eu escrevi e mandei para o Ian, o diretor, ler, para o Gregório, e eles adoraram. Então eu não tive que mexer em nenhuma piada por que alguém achou forte. Eu já escrevi sabendo disso, porque a gente não está rindo do doente, a gente está rindo da ignorância e do preconceito, é disso que a gente tira sarro e é isso que acaba sendo muito mais engraçado.

- Vocês fizeram algum tipo de pesquisa sobre o assunto?  Eu fiz várias pesquisas, li muitas coisas na internet para entender mais sobre o assunto, alguns detalhes, e descobri que tinham coisas que eu não sabia. Consultei uma médica de São Paulo, conversei com ela, mandei os textos para ela ler para ver se precisava de alguma correção, se tinha algo que eu tinha falado de errado e ela, ao contrário, falou: ‘Nossa, parece que você conhece esse mundo porque você foi super delicado, não é desrespeitoso’. Eu fiquei feliz com isso e mandei o texto também para um cara que é militante, portador do vírus e ele falou: ‘Que bom que você está tocando nesse assunto’. Nenhum deles achou agressivo ou desrespeitoso em nenhum momento.

- Vocês geralmente tem esse mesmo cuidado e trabalho com as esquetes? Como é um seriado, é mais longo, são quatro episódios, e é um tema que eu não tenho tanto conhecimento, eu tive que pesquisar mais nesse sentido para não falar bobagem. Mas quando eu tenho que escrever uma esquete sobre, por exemplo, os dez mandamentos, eu pesquisei para ver o que diziam os dez mandamentos. No fundo, só tem graça quando é verdade. Mas, claro, para uma esquete de dois minutos geralmente eu não preciso fazer uma pesquisa para escrever.

- Mesmo tendo pesquisado a fundo, você acha que muita gente vai criticar essa abordagem do Porta? Como qualquer vídeo nosso, seja sobre AIDS, sobre política, sobre término de namoro, vai ter gente que vai gostar e gente que não vai gostar. Vai ter gente falando que não pode brincar com isso e outras que vão dizer: ‘Poxa, que bom que vocês estão tocando nesse assunto’. Vai ter gente que tem AIDS que vai dizer: ‘Que maravilha! Que divertido!’ e outros que vão dizer: ‘Que absurdo! Que falta de respeito!’. Mas, de um modo geral, todo mundo que viu, todo mundo que leu, aprovou 100%, ninguém nunca ficou com um pé atrás. É um tema como qualquer outro, isso que eu acho bacana.

- Precisou de um investimento muito maior para fazer a série do que geralmente acontece com as esquetes? Quanto tempo levou para fazer? Foi muito mais trabalhoso. Foram dez diárias para a gente rodar esses quatro episódios, muito mais atores, já que a gente convidou gente de fora para fazer também. Teve um cuidado maior com a produção, afinal de contas eram diárias maiores, cenas noturnas, a gente virou a noite. Então teve um cuidado a mais sim.

- Como foi sua reação em relação à ameaça de morte recebida pelo vídeo ‘Dura’? E em que pé está esse caso? Foi muito tranquilo, na verdade. Um cara em um blog escreveu um texto fazendo apologia ao crime e, uma semana depois, esse blog já tinha saído do ar. Na verdade a imprensa fez muito mais alarde do que realmente aconteceu. Quer dizer, eu estou em cartaz no teatro, qualquer pessoa que quiser me achar é só ir ao Shopping da Gávea de sexta a domingo que eu vou estar lá (risos), então não tem muito o que eu fazer. De um modo geral, a polícia colocou no seu site que respeita a liberdade de expressão, que é contra qualquer tipo de ameaça, não se sentiu ofendida. No BOPE as pessoas amaram nosso vídeo, então eu acho que só quem não gostou do vídeo foram os policiais corruptos. De resto, todo mundo se divertiu. Foi um caso isolado porque eu continuei saindo na rua, fazendo as coisas normalmente, não foi algo que eu me senti realmente ameaçado.

- E a questão do Feliciano. Depois do processo e das críticas, vocês ficam com medo de tocar nesses assuntos de novo ou foi só um motivado para falar mais ainda? Nem um pouco. No caso do Feliciano ele falou que ia entrar com uma ação, mas a gente não recebeu anda até agora. O Feliciano fica irritado com muitas coisas, não é só com a gente. Nós somos apenas uma das coisas que deixa ele incomodado. Mas eu tenho certeza que tem muito mais gente incomodada com o que ele diz do que com o que a gente diz (risos). A gente faz o que acha engraçado. Nós lemos o texto, se achamos engraçado, fazemos. São cinco sócios e os cinco aprovam o texto, então é difícil alguma coisa passar batida por cinco pessoas.
- Em que ponto a sátira se torna ofensiva? Ou isso é muito relativo? Depende de quem vê. Outro dia eu li uma frase boa do Rick Gervais que falava: ‘Não é por que você se ofendeu que você está certo’. Eu acho que sempre alguém vai se ofender, sempre vai ter alguém com uma visão contrária à sua. Não importa se é no humor, numa coluna, no jornal, alguma observação, uma frase, alguém vai se ofender. Ponto. O objetivo do humor é fazer rir. Se tem muito mais gente odiando do que rindo, talvez é melhor parar e prestar atenção no que você fez.

- Humoristas como Rafinha Bastos e Danilo Gentili, vira e mexe se metem em encrencas por suas piadas. Você acha que o humor deles extrapola um pouco esse limite em alguns momentos? Não. Eu acho que o humor é para ser engraçado e todo mundo consegue fazer humor mais ácido, mais negro, humor mais leve, humor tapa na cara. E eles fazem todos esses tipos de humor. As pessoas, de um modo geral, estão sempre meio propensas que ouvem uma coisa e já se ofendem e às vezes nem entendem direito. Mas tem casos e casos. Eu nunca me ofendi com piada nenhuma. Eu, Fábio Porchat. Mas tem gente que se ofende. A moça, doadora de leite, se ofendeu e ela tem todo esse direito, afinal, a vida é dela.

- Você acha que elas pessoas levam o humor a sério demais? O humor é para ser levado a sério. Quando a pessoa diz: ‘É só uma piada’, eu acho que é tirar um pouco o corpo fora. Assim, ela é uma piada e ela tem a força que uma piada tem, de todo mundo rir daquilo ali e uma das piores sensações do mundo é você ser alvo de risada. Quando está todo mundo rindo da sua cara, você não gosta. As pessoas hoje em dia estão meio sem humor, isso sim. Com a gente do Porta todo mundo tem reagido tão bem, a gente só ouve coisa boa. A gente tenta fazer o nosso tipo de humor e ele está sendo bem recebido por uma maioria esmagadora.

- Você vê que as séries americanas vivem um momento excelente, com grandes produções e o Brasil ainda engatinha nesse quesito. O que você acha que falta para produzirmos mais séries?  O que a gente precisa é de experiência. Os caras têm experiência e escrevem filmes desde 1920, bons filmes e têm escolas de roteiristas. No Brasil a gente vai começar a melhorar quando der mais valor ao roteirista. O roteirista é a alma do filme, é a alma do seriado. Quando a gente começar a dar valor ao roteirista, tudo vai começar a mudar. Tem que acabar com essa mentalidade de: ‘Ah qualquer um escreve uma piada. A gente chama uma meia dúzia de pessoas aí e escreve’, não é assim. Lá o roteiro é levado a sério. Tanto que os roteiristas entraram em greve e parou tudo, o cinema, a televisão, não tinha mais nada, acabou. Aqui se um roteirista entrar em greve, o pessoal chama algum tio engraçado, que um dia já contou umas piadas bêbado no Natal. Então o dia que o roteirista começar a ter valor aqui no Brasil, a gente vai ter uma melhora significativa, com certeza.

- Quais serão os próximos planos do Porta? A partir do primeiro sábado da Copa do Mundo a gente vai lançar toda semana esquetes sobre futebol. Desde vestiários, comemoração de gol, vai ter de tudo. E em agosto a gente lança o nosso próximo seriado, que a gente ainda não posso falar qual é.


- E o filme do Porta? Ano que vem. Essa é a ideia. Se tudo der certo, começamos no ano que vem. 

Thursday, December 26, 2013

Entrevista com Neville Page, designer de 'Avatar'...e muitos outros sucessos

As superproduções de Hollywood dificilmente teriam o mesmo reconhecimento sem os efeitos especiais e também os personagens e criaturas das mais diversas e curiosas aparências contracenando com os protagonistas de carne e osso. Esses monstros e animais ganham vida na tela graças aos creature designers, ou designers de criaturas. E um dos artistas mais experientes e influentes no ramo é o britânico naturalizado americano Neville Page. Filho de um músico e uma dançarina, Neville nasceu na Inglaterra no berço do entretenimento. 

Conhecido pelos trabalhos em filmes como Super 8, Star Trek e Avatar, o designer começou a carreira em Los Angeles como ator de teatro e de comerciais com o sonho de se tornar o próximo Luke Skywalker, de Star Wars, e trabalhar em um grande set de filmagem. No entanto, após alguns anos no palco sem conquistar nada próximo de uma guerra nas estrelas, escolheu outro caminho para chegar ao seu objetivo e partiu para o design. Após trabalhar como designer industrial para marcas de automóveis, voltou para Los Angeles, onde fez alguns contatos e conseguiu participações, mesmo que pequenas, em filmes como X-Men e Hulk.

Mas foi entre 2003 e 2004 que Neville começou a escrever seu nome entre os principais artistas visuais de Hollywood quando recebeu um convite de James Cameron para trabalhar em sua nova produção, Avatar. As criaturas azuis do filme de Cameron foram apenas alguns degraus para o auge do designer, que acabou se consolidando quando recebeu um convite de J.J. Abrams para trabalhar no filme Cloverfield. A parceria com o diretor foi além do monstro que aterroriza a cidade de Nova York. “Aceitei e acabei trabalhando com ele em outros filmes, como Star Trek e Super 8, o que me colocou onde estou hoje”, conta o designer. Também constam em seu currículo os filmes As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, Watchmen, Prometheus e Minority Report, além das séries Terra Nova e Falling Skyes.

Perguntado a respeito do cinema brasileiro e como o país pode ganhar grande renome internacional, Page diz para apostar nos blockbusters e em filmes que não exijam muita atenção do espectador. “O país precisaria de trabalhos que chamassem a atenção de Hollywood e do mundo, um filme que o mercado internacional ache incrível, e que se faça entender sem exigir muito do espectador. Quer dizer, que seja puro entretenimento”. Confira a entrevista com o designer de criaturas Neville Page.

Designer de Criaturas Neville Page

É possível ser completamente original nas criações dos personagens? Eu acredito que não podemos criar no design coisas que nunca vimos antes. Muitos diretores pedem isso, ‘Desenhe algo que eu nunca vi na minha vida’, mas não é bem assim, eu posso desenhar algo que você nunca viu, mas aí você não vai gostar. Posso desenhar dois olhos brilhantes com testículos e um moicano peludo. Eu nunca vi isso, e sabe por quê? Por que é uma porcaria (risos).  Você tem que criar algo que nunca foi feito, mas que seja metafórico, baseado em algo que já exista, senão as pessoas vão achar estranho e não vão se divertir com o personagem nem seguir a história. James Cameron me ajudou a entender isso em Avatar. A criatura tem que ser traduzível. Por exemplo: vai ser algo parecido com um cavalo? Um pássaro? Um lagarto? É quando estabelecemos essa base que conseguimos criar.

Um bom designer deve exigir inovação de si mesmo? Sim. Não tenho filhos, mas acho que cabe uma analogia aqui. Quando você tem seu primeiro filho, vive experiências inéditas. Se tem uma segunda criança, passa a fazer as coisas de um jeito melhor e com mais cuidado. Com as criaturas, que são meus filhos, é parecido, pois na primeira vez que você desenha logo se dá por satisfeito, mas depois se torna mais exigente com o que faz. Você começa a se envolver mais com os personagens, porque já fez muitos desenhos e tem que se policiar para não se repetir, ou ao menos repetir detalhes que deram certo e melhorar o que ficou ruim.

Os diretores geralmente dão liberdade a você para criar o que quiser ou há muita interferência? Alguns diretores têm uma visão específica do que querem, como James Cameron e Ridley Scott, que também sabem desenhar. James tinha em mente a ideia das criaturas de Avatar dez anos antes de o filme ser feito. Quando uma pessoa assim consegue o dinheiro para tocar um projeto, ela simplesmente chega ao designer e fala, ‘É isso que eu quero’. Mas, em algumas situações, James pedia coisas como pequenos insetos que eu criava da minha própria cabeça. Também acontece de um diretor, como é o caso de Steven Spielberg e J.J. Abrams, descrever ao máximo o que quer, sem saber exatamente o que é. Então, o designer, como um artista visual, precisa ajudá-lo a visualizar o que deseja. Meu trabalho é observar essas pessoas e ajudá-las a esclarecer suas ideias.

Os filmes em formato 3D interferem no seu trabalho de alguma maneira? Não necessariamente. A única situação em que, teoricamente, o 3D faz diferença, é quando o filme precisa ser menos sério, quando você quer se utilizar da graça da tecnologia. Então, você pode escolher uma criatura que tenha, por exemplo, um chifre enorme – chifre que, quando ela se aproximar da câmera, chegará perto do espectador. O que de fato interfere no trabalho dos designers é a resolução do 3D, como no caso dos filmes em alta definição. Antigamente, como a definição não era tão perfeita, tinha borrões, não era preciso desenhar os personagens com precisão tão extrema. Mas hoje, quando você vê frame por frame de um longa, é possível observar os detalhes de cada fio de cabelo, do rosto e da maquiagem e corrigir os erros.

O que acha do cinema brasileiro? Vou especular, pois não tenho conhecimento aprofundado sobre o assunto, mas, pelo que já observei, o Brasil tem vontade e paixão de sobra. Para mim, o que falta é experiência, além de uma melhor estrutura econômica, ou de um maior envolvimento do governo, sem isso fica difícil para o Brasil competir no mercado global. O país precisara de trabalhos que chamassem a atenção de Hollywood e do mundo. Uma vez que tiver isso, o mundo começará a ver que o cinema brasileiro pode ser um sucesso financeiro. Posso fazer uma analogia com comida. Pense no Mc Donald’s como uma companhia multibilionária, mas que não faz comidas muito rebuscadas, é apenas um hambúrguer com batatas e refrigerante. Existem pessoas que apreciam uma cozinha mais sofisticada, mas a maioria prefere algo simples e acessível. Acho que o Brasil pode fazer filmes pequenos e excelentes, mas que precisa de alguns Big Mac’s (risos). Precisa de um filme que o mercado internacional ache incrível, e que se faça entender sem exigir muito do espectador. Quer dizer, que seja puro entretenimento, como Star Trek, que é um bom longa, não porque tem uma caracterização fenomenal dos personagens ou um tipo único de roteiro, mas porque agrada a um grande número de pessoas, não importa a idade ou a cultura.

Os softwares e programas mudaram muito desde que você começou a trabalhar no meio? Muito. Nós costumávamos desenhar apenas com papel e caneta, esculpir com argila. Ainda se faz isso até hoje. Por volta de 1989, um professor falou a respeito de uma máquina que estava desenhando, uma caixa com outra caixa dentro, de onde saía um fluido com água mágica que, uma vez tocada por um laser, se transformava em algo totalmente diferente. Era tudo computadorizado, algo incrível para a época e que hoje fazemos o tempo todo. Uma coisa que aprendi desenhando produtos médicos e esportivos é a usar programas de computador para visualizar e fabricar melhor as coisas. O Zbrush (ferramenta para desenho digital) já existia, mas funcionava mais para brincar do que necessariamente para criar coisas. Na produção de Avatar, eu cheguei a mostrar para James Cameron que se tratava de uma ferramenta para esculpir digitalmente personagens e criaturas, mas que ninguém queria se arriscar a usar em um filme. No começo, ele foi resistente e preferiu continuar com papel e caneta e argila, pois achava que o processo digital demoraria mais. Então, decidi criar a mesma coisa duas vezes – com argila e digitalmente. A primeira levou uma semana para ficar pronta, a segunda apenas um dia, e foi aí que eu o convenci. Por isso, arrisco dizer que Avatar foi inovador quanto à criação de personagens. Com o tempo, as pessoas começaram a adotar essa ferramenta. Não fui eu quem a inventou, mas fui um dos pioneiros a usá-la no set.

Quais sãos seus próximos planos e projetos? Acabei de finalizar o filme Noé, dirigido por Darren Aronofsky (Cisne Negro), e estou desenvolvendo outros, como Goosebumps, que era um seriado de televisão e deve ser adaptado para o cinema.

Qual você considera o seu melhor trabalho? Tem vários, mas um que me marcou muito é a criatura de Super 8. Ninguém sabe como essa criatura parece além de mim e J.J. Abrams, pois você não a vê no filme. Essa é a escolha do diretor, pois o filme não é sobre a criatura, ela é apenas a antagonista da história, o problema a ser resolvido. Outra criatura que eu gostei de ter desenhado foi um bicho gigante e vermelho que sai de uma placa polar no primeiro Star Trek.

Entrevista realizada no dia 18 de outubro de 2013.

Thursday, August 8, 2013

Bate-papo com Fabio Porchat e Gregório Duvivier

Na última quarta-feira fui escalado para cobrir o lançamento do livro do grupo de humor Porta dos Fundos, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, São Paulo-SP, Brasil, América do S...Enfim, lá estavam alguns membros da trupe desse canal de humor de sucesso nacional e, por que não, internacional. Com 400 milhões de visualizações em um ano, o Porta dos Fundos é o canal de humor mais bem sucedido da internet no mundo.

Tive o prazer, mesmo que por pouco tempo, de conversar exclusivamente com Fabio Porchat e Gregório Duvivier, dois dos principais integrantes do grupo. Foi um momento muito marcante pois estava tendo o privilégio que centenas de pessoas, que estavam lá para garantir um autógrafo de seus ídolos, gostariam de ter.

Para estrear o blog com estilo, o meu (breve) bate-papo com Porchat e Gregório:

Fabio Porchat

De onde surgiu a ideia de lançar um livro com as esquetes do Porta? Qual é a intenção?

A sextante propôs de a gente lançar o livro, mas não sabia exatamente do que. Ai a gente propôs: por que não usar os roteiros que estavam prontos, faz uma seleção e lança como se fosse um DVD lido? Tem os extras, tem fotos, tem imagem, tem os textos, e na hora eles toparam. É mais uma forma de levar o conteúdo do Porta dos Fundos para lugares onde talvez não chegue a internet, mas chega o livro, tem essa pegada também. As pessoas perguntam: “vocês estão indo para os livros?", mas não, pelo contrário, a gente parte do texto escrito sempre, então é onde tudo começou, é o principio de tudo.

Vocês já receberam propostas para ir para a TV?

A gente nunca recebeu nenhuma proposta concreta, do tipo: “queremos vocês amanhã, toma aqui 50 reais, vem para cá”. Mas já conversamos com varias emissoras, já conversamos com a Globo, Rede TV!, Multishow, em todos os casos as pessoas foram muito abertas, isso foi legal. Mas a gente também nunca deu nenhuma proposta para eles. Se a gente tivesse que mudar alguma coisa, não iríamos para a TV, a gente só pode ir para a TV se souber que aquilo que a gente está fazendo vai daquele jeito. É claro que a gente tem que ter consciência para quem estamos falando, é muito diferente você fazer humor para a TV aberta, para o cinema, teatro. 

Como foi a experiência de fazer vídeos publicitários?

É um meio de sobrevivência, a gente ganha dinheiro assim. O que a gente faz na propaganda é que a gente ouve o cliente. Não adianta para a Fiat você fazer um vídeo sobre livraria. Mas o que a gente tenta sempre lutar pra fazer é dar a palavra final do vídeo. É o que a gente sabe fazer, é vídeo de humor, a gente não sabe fazer propaganda então tentamos adequar a ideia do cliente para o nosso vídeo, mas a palavra final é nossa.

Vocês tem muitos vídeos polêmicos que tocam em assuntos como religião, homossexualidade. Vocês sofrem muitas críticas por esses vídeos? Muita gente já deixou de assistir vocês por causa disso?

Eu não acho que os nossos vídeos são polêmicos, acho que eles podem pegar temas que podem ser polêmicos. A gente nunca teve problema, nunca fomos processados, nada. Não sei, com certeza alguém já deixou de ver por causa disso, mas também acho que muita gente passou a assistir por causa disso. A gente tem em media 55 milhões de visualizações por mês e é o maior canal de humor do mundo em visualização. Quem quiser assistir, assiste, quem não quiser não assiste.

Por quê você quase sempre faz papel de homossexual ou travesti?

(Risos) Realmente, eu faço um gay na Grande Família, no Concurso também. Na verdade eu vestido de travesti é muito mais marcante do que eu vestido de Fabio. Mas no Vai que Dá Certo eu não faço um gay, nem no Meu Passado me Condena. Mas sou totalmente a favor da causa, tem que adotar, tem que casar e acho que as pessoas ainda não estão preparadas para isso. Eu vi pelo vídeo A Regra É Clara, que eu fiz com o Gregório, que a gente se beija no final e as pessoas tomaram um susto, muitas pessoas reagiram mal, negativamente e eu acho super legal a gente fazer vídeos que batam de frente com isso. Mas a gente nunca quer fazer um vídeo em prol de uma causa, a gente quer ser engraçado

Como vai ser o filme do Porta dos Fundos?

Vai ser uma historia mesmo, não são esquetes, uma historia com começo meio e fim, com os mesmos atores do porta, os mesmos redatores e o diretor, que é o Ian, então vai ter a mesma pegada, a mesma força. São historias que se cruzam e vão se encontrando, tipo Pulp Fiction, será o Pulp Fiction da comedia, olha que pretensão a minha (hahaha). Começamos a filmar em outubro, serão 5 semanas de filmagem, e previsão de estreia para o ano que vem. Mas cinema é aquela coisa, a gente faz e lança em 2078, mas se tudo der certo, no ano que vem estreia. O tema central é um grupo de amigos que se contra pra se divertir e o que acontece antes e depois disso.

Gregório Duvivier

Como funciona o processo de criação das esquetes?

Em geral cada um tem a ideia sozinho, ou conversando com o outro. Aí a gente chega numa reunião cada um com 2 textos. Como somos 4 roteiristas, eu, Fábio, Esteves e o Tabet, no total são 8 textos, e desses 8 textos a gente escolhe 2. Do resto, ou a gente joga fora ou reescreve até ficar legal, a maioria a gente reescreve.

Vocês já receberam muitas propostas para ir para a TV?

Mil propostas, mas nenhuma que a gente falou é isso que a gente quer. Não faz muito sentido hoje em dia, na intenet a gente alcança um número enorme de pessoas, elas assistem o que elas quiserem e aonde elas quiserem, a gente na televisão vai atingir um numero menor de pessoas que vão assistir uma vez por semana, e em casa. A gente está sobretudo muito feliz na internet, até por que é uma plataforma livre onde a gente fala o que a gente quiser, do jeito que a gente quiser. A televisão é uma empresa grande governada por anunciantes, o youtube também, só que a diferença é que eles não interferem em conteúdo, as emissoras todas interferem no conteúdo e nenhuma delas compra a nossa briga

Imaginava que o Porta iria chegar nesse nível e ganhar toda essa proporção?

Acho que ninguém imaginava tamanho sucesso, são 400 milhões de views num ano em um canal só, média de 1 milhão por dia. Tomara que o próximo ano seja tão bom quanto esse.

Tem medo do canal perder força ou ficar estagnado?

Tenho medo de aumentar, maior que isso vai ser enlouquecedor (kkk). Diminuir acho difícil porque a linha é sempre crescente. Pode ser que diminua, mas o legal do porta é que esse compromisso da fidelidade de segunda e quinta as 11 horas. Ele gera uma espera pelo próximo vídeo que só aumenta e só faz aumentar a quantidade de expectadores, que vão compartilhando e chamando mais gente pra assistir. Então, de modo geral, vai sendo uma escala exponencial.